Wednesday 9 February 2011

(h)Ouve



"Ouve:
Como tudo é tranquilo e dorme liso;
Claras as paredes, o chão brilha,
E pintados no vidro da janela
O céu, um campo verde, duas árvores.
Fecha os olhos e dorme no mais fundo
De tudo quanto nunca floresceu.

Não toques em nada, não olhes, não te lembres.
Qualquer passo
Faz estalar as mobílias aquecidas
Por tantos dias de sol inúteis e compridos.

Não te lembres, nem esperes.
Não estás no interior dum fruto:
Aqui o tempo e o sol nada amadurecem."

Sophia.

(imagem de Gabriel Pacheco)

Monday 7 February 2011

Ingrina



"O grito da cigarra ergue a tarde a seu cimo e o perfume do orégão invade a felicidade. Perdi a minha memória da morte da lacuna da perca do desastre. A omnipotência do sol rege a minha vida enquanto me recomeço em cada coisa. Por isso trouxe comigo o lírio da primeira praia. Ali se erguia intacta a coluna do primeiro dia – e vi o mar reflectido no seu primeiro espelho. Ingrina.

É esse o tempo a que regresso no perfume do orégão, no grito da cigarra, na omnipotência do sol. Os meus passos escutam o chão enquanto a alegria do encontro me desaltera e sacia. O meu reino é meu como um vestido que me serve. E sobre a areia sobre a cal e sobre a pedra escrevo: nesta manhã eu recomeço o mundo."

Sophia.

(imagem de Lena Corwin)

Tuesday 24 August 2010

Monday 23 August 2010

em suspensão...


... à espera da forma, do tamanho, do feitio, da cor... e do plural.

(imagem de Lena Corwin)

Sunday 2 May 2010

Dia da Mãe

Se eu, hoje, encontrasse uma lâmpada mágica, pediria ao senhor génio que me levasse a um tempo-lugar onde pudesse vê-la de perto, onde pudesse ouvir as histórias que me quisesse contar e onde pudesse apertá-la num abraço de dizer obrigada sem usar palavra alguma. Se eu pudesse, hoje, era o desejo que pediria.

Que nenhuma estrela queime o teu perfil
Que nenhum deus se lembre do teu nome
Que nem o vento passe onde tu passas.

Para ti criarei um dia puro
Livre como o vento e repetido
Como o florir das ondas ordenadas.


Sophia de Mello Breyner Andresen

(ilustração de Cecilia Afonso Esteves)

Friday 29 January 2010

se eu fosse um auto-retrato...



encontrei esta menina pequenina na colecção de "heróis de bolso" do Wishes&Heros" e não pude deixar de a imaginar ao meu "espólio" de moranguinhos encontrados por aí. achei-a tão ternurenta que me fez sorrir e ter vontade de a guardar neste cantinho. é ou não é uma doçura?

Tuesday 15 September 2009

"onde tu estiveres"



de tanto cirandar, de tantos ares diferentes respirar, de tantas cores me entrarem por todos os poros da pele, a certeza que fica (além do cansaço rotineiro de fazer e desfazer malas) é uma única e singela: "lar doce lar" é onde estiveres comigo.

Sunday 12 July 2009

metade da minha vida


hoje é dia de lembrar saudades. é dia de perceber que quando alguém morre, a falta que esse alguém nos faz nunca desaparece, nem diminui, nem acalma. apenas se transforma. se harmoniza com os restantes elementos do quotidiano. mas não desaparece, nem diminui, nem acalma. hoje é dia de saber que metade da minha vida foi vivida com ela e outra metade já existe sem ela. e ela está sempre presente. a falta que me faz não desaparece, nem diminui, nem acalma. apenas se transforma. às vezes aparecem borboletas brancas. às vezes acendem-se os candeeiros à minha passagem. acontece a todos, sei que sim. mas eu presto atenção. porque às vezes é para mim. e mesmo que a falta do riso e do abraço e do mimo de mãe-que-há-só-uma que não desapareça, nem diminua, nem acalme, hoje é dia de lembrar o último desejo realizado. 14 anos passados. e a saudade não desaparece, nem diminui, nem acalma.

Friday 10 July 2009

Tus ojos


Tus ojos son la patria del relámpago y de la lágrima,
silencio que habla,
tempestades sin viento, mar sin olas,
Pájaros presos, doradas fieras adormecidas.
topacios impíos como la verdad,
otoño en un claro del bosque en donde la luz cantaen el hombro
de un árbol y son pájaros todas las hojas,
playa que la mañana encuentra constelada de ojos,
cesta de frutos de fuego,
mentira que alimenta
espejos de este mundo, puertas del más allá,
pulsación tranquila del mar a mediodía,
absoluto que parpadea,
páramo.


Teus Olhos

Teus olhos são a pátria do relâmpago e da lágrima,
silêncio que fala,
tempestades sem vento, mar sem ondas,
pássaros presos, douradas feras adormecidas,
topázios ímpios como a verdade,
outono numa clareira de bosque onde a luz canta no ombro
duma árvore e são pássaros todas as folhas,
praia que a manhã encontra constelada de olhos,
cesta de frutos de fogo,
mentira que alimenta,
espelhos deste mundo, portas do além,
pulsação tranquila do mar ao meio-dia,
universo que estremeca,
paisagem solitária.

Octavio Paz, in "Liberdade sob Palavra"
Tradução de Luis Pignatelli

Tuesday 7 July 2009

Monday 6 July 2009

Ferdy

Estava eu sentada no meu sofá, navegando por aí sem rumo nem percurso definido, quando de repente aparece diante de mim este pequeno tesouro da infância. Lembram-se? Ferdy era apaixonado pela Joaninha Gwendoline e tinha um cão muito engraçado. Que inesperada surpresa! Não resisto a partilhar pelo menos o genérico. Quem conhece há-de gostar de recordar. 


Thursday 25 June 2009

cinco mangas

Oito da noite (aqui os dias não são tão longos como em casa). Oito e pico. Ilha de Santiago, cidade da Praia. Café Sofia: esplanada. O computador ligado em cima da mesa absorve quase toda a minha atenção quando, de repente, sinto uma mão pequenina a puxar-me o vestido. “temos fome!” diz a porta-voz de quarto meninas de pele negra, negra, negra. Olho para cada uma delas. Uma ainda é bebé de fralda. Sorrio e digo: “não tenho dinheiro mas tenho mangas… querem?”. Abrem-se sorrisos e iluminam-se os olhos de todas elas. “Sim, sim!!!” A bebé faz que sim com a cabeça. Dou uma manga a cada uma. Agradecem e correm de volta para as brincadeiras, junto às mães que vendem pequenezas na praça. Passados poucos minutos, arrumam as coisas e vão embora. Todas elas me acenam, de mangas na boca, e sorriem. E eu sorrio de volta e digo “até amanhã!”.

E o sorriso não se desfaz. Porque a beleza está nos pequenos segredos, nas pequenas histórias, no imbatível encanto da simplicidade. Porque quarto meninas de pele negra, negra, negra deixam-me uma manga para eu comer também.

Sunday 14 June 2009

Doroty e Semedo




Quando as palavras parecem pouco, costura-se a poesia 
à alma com asas doces e guitarra romântica. 

Friday 12 June 2009

Dia dos Namorados


Aqui, os dias especiais são a dobrar...

(ilustração de Ana Oliveira)